Publicado em: 29/10/2014 17:42 | Atualizado em: 12/06/2017 17:50
Em entrevista para o Rio Mountain Festival, o escalador David Lama comenta sobre sobre sua escalada no Cerro Torre, e informa pretensão de vir ao Brasil.
1 – Se puder resumir em duas palavras seus sentimentos sobre sua escalada no Cerro Torre, quais seriam?
Não poderia. Demorei mais de quatro anos para escalar o Cerro Torre em livre e é simplesmente impossível reduzir todo esse tempo, com todas as experiências intensas que vivi e que teve uma imensa influência na minha vida, a apenas duas palavras.
2 – Qual foi a maior dificuldade que você encarou quando estava por lá no Cerro Torre?
Uma vez que cresci escalando vias esportivas e, por muitos anos, competi entre os melhores na Copa do Mundo de adultos, eu sabia que liberar a via não seria meu principal desafio no Cerro Torre. Para mim, o principal problema era encontrar as condições adequadas e também desenvolver as habilidades e a experiência em escalada alpina para conseguir escalar o Torre de alguma maneira. Sabia que apenas assim conseguiria montar o quebra-cabeça para escalar em livre até o cume.
3 – Acredita que essa escalada marcou a transição de um atleta de competição para um escalador alpino? Você pensa em voltar a competir? Se sim, quando?
O Cerro Torre realmente me mudou, passei de um atleta de competição para um escalador alpino. E nesses últimos anos, depois de ter liberado o Torre, mudei ainda mais e estou mais perto de ser um escalador voltando para os extremos nas montanhas. Mesmo assim, ainda curto bastante a escalada esportiva e de vez em quando ainda participo de alguma competição. Porém, a época em que eu me dedicava somente aos campeonatos e à escalada esportiva acabou.
4 – O que você pensa sobre o método que o Maestri utilizou para abrir a via do Compressor?
Para mim, essa conquista não tem nada a ver com o que entendo por escalada. Acho que marcou o apogeu de uma era, onde a escalada significava somente encontrar a solução para um problema; não era uma arte, onde o estilo é a coisa mais importante.
5 – No primeiro ano que você foi à Patagônia, houve uma polêmica sobre a adição de chapeletas para a equipe de filmagem. Atualmente, depois do ocorrido e com o passar do tempo, como você vê essa questão? Faria diferente?
Claro que eu faria diferente, inclusive eu fiz as coisas de maneira diferente depois desse primeiro ano na Patagônia e terminei o projeto em excelente estilo. Apesar das críticas pesadas, eu não gostaria de não ter vivido isso. Isso me fez rever toda a maneira como vivia a escalada e acho que atualmente tenho uma visão mais clara do que a maioria dos escaladores sobre como quero escalar.
6 – Qual a sua opinião sobre o que ocorreu em 2012, quando Hayden Kennedy e Jason Kruk retiraram diversas proteções fixas da via do Compressor?
Acho que é importante distinguir o ato do vandalismo em si do resultado final. Eu não teria arrancados as proteções e a melhor palavra que posso pensar que defini o que ocorreu é “coragem”. Porém, o ato de Hayden e Jason teve uma consequência que considero ser boa. É claro que eles não apagaram a historia das montanhas, mas acho que eles devolveram um pouco do aspecto selvagem à elas. Acho que atualmente a montanha, essa linda agulha de granito na Patagônia, está mais próxima a como foi criada pela natureza.
7 – Qual seu próximo projeto? Algum na Patagônia ou América do Sul?
Nos últimos dois anos, tenho me dedicado à tentar a face nordeste do Masherbrum. É uma parede de mais de 3000 metros no Karakoram e provavelmente a escalada mais difícil que consigo imaginar. Em 2013, meu parceiro Peter Ortner lesionou o joelho e ombro em uma queda quando estávamos nos aclimatando; voltamos nesse verão para tentar novamente. Depois de uma boa aclimatação no Broad Peak, entramos na parede, mas as condições estavam ruins e tivemos que descer depois de poucas centenas de metros. No próximo ano, irei focar em alguns projetos menores no Alaska e Nepal, mas o Masherburm ainda está na minha lista.
Além disso, tem muita coisa que gostaria de escalar na Patagônia. Desde que fui para El Chaltén pela primeira vez, na temporada de 2009/10, voltei para lá anualmente. Esse ano também vou, depois da viagem pro Brasil.
8 – E aqui no Brasil, algum plano específico?
Conversei um pouco com o Felipe Camargo, um amigo de anos. Nos encontramos diversas vezes quando competíamos no campeonato mundial e também escalamos algumas vias esportivas na França e Itália. Estou amarradão para escalar algumas coisas com ele e também quero surfar.
Filme com David Lama
David Lama estrela o filme “Cerro Torre – A Snowball´s Chance in Hell” onde decide escalar a infame face sudeste do Cerro Torre, uma montanha que já foi considerada a mais difícil do mundo.
O filme, inédito nos cinemas do Brasil, será exibido com exclusividade no Rio Mountain Festival 2014, na próxima Sexta-Feira, 31/10, às 19h.